União empurra para os estados sua própria conta, por Luiz Paulo

União empurra para os estados sua própria conta, por Luiz Paulo

Minhas saudações ao sr. presidente em exercício, deputado Coronel Salema, senhoras e senhores telespectadores da TV Alerj, senhor intérprete da linguagem de libras, que leva a nossa voz aos deficientes auditivos. 

O injusto RRF e a espoliação dos estados brasileiros

Nos jornais de ontem e de hoje, o tema central que se discute no Congresso Nacional, e que vai afetar diretamente as unidades federativas, em especial, o Estado do Rio de Janeiro, que tenta renovar o injusto o RRF – Regime de Recuperação Fiscal por mais nove anos. Há um litígio entre o estado e a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, que sempre, de forma arbitrária, tenta rasgar o pacto federativo e espoliar os estados brasileiros.

Demandas: limite do teto de gastos e triênios

A data apontada pelo Supremo, através do Ministro Toffoli, era dia 6 de junho, para fazer com que a demanda entre a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional e o estado tivessem uma conciliação. As duas demandas são o limite do teto de gastos e a questão específica dos triênios. Ocorre que a proposta da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional foi rejeitada, não foi acatada pelo governo do estado, e nem podia acatá-la. Nesse ponto, o Ministro Toffoli adiou a decisão, porque está aguardando uma conciliação, para o dia 20/06.

O Estado está prestes a assinar um novo Regime de Recuperação Fiscal, por mais nove anos, fora esse limbo em que vivemos, de setembro de 20 até a presente data, porque, em tese, estamos entre dois regimes, sem ter assinado o segundo.

O prejuízo para o Rio de Janeiro pelas mudanças no ICMS 

A secretaria de fazenda, ou seja, o governo do estado, fez as projeções de desenvolvimento econômico, de crescimento da receita, para os próximos nove anos, e partiu da receita de 2021 do ICMS. E o Congresso Nacional, via Senado Federal, começa a discutir o teto de 17% de ICMS para combustíveis, energia elétrica, serviços de telecomunicação e transportes, ou seja, uma parcela importante da arrecadação do Rio de Janeiro.

Isso implica dizer que vamos perder recursos e que aquelas projeções que foram feitas para os nove anos já ficam quase sem nenhuma chance de dar certo. Já é difícil, neste Brasil de insegurança jurídica e de tantas outras incertezas, projetar alguma coisa para o ano que vem, que fará para nove anos, ainda mais quando se altera a sua base inicial.

Senado promete compensar perdas. Experiência diz outra coisa.

Além disso, o Senado Federal diz que vão aprovar emenda constitucional para compensar essas perdas até o final do presente ano. Uma compensação de seis meses. Esse filme já vimos, e parece a Lei Kandir 2. A Lei Kandir também aprovou compensações, teve emenda constitucional, tudo o que se tem direito e a compensação não veio. Fingimos que vamos dar compensação, os estados aceitam e depois discute-se no futuro.

Mas já existem pessoas no Senado falando que a compensação seria quando as perdas excederem 5% da receita daquele ICMS, daquela atividade econômica. Ou seja, se tiver uma perda de 6%, na verdade será compensado com 1%. Vejam só: isso a seis meses de acabar os governos.

É uma discussão apressada. Lembro que dia 13 de junho é dia de Santo Antônio, 24 de junho é dia de São João e 29 de junho é dia de São Pedro. Principalmente no nordeste brasileiro, este é o mês de mais festas, em véspera de eleição. Os senadores e deputados federais do nordeste têm que retornar às suas bases e estar nessas atividades festivas, que é da tradição cultural e popular. Portanto, é difícil nesse mês de junho aprovar emenda constitucional. Depois é o recesso e, em seguida, são os 45 dias de campanha.

Trata-se de discurso populista

Será essa medida oportuna? No meu entendimento, não. Porque, na verdade, o que se discute aqui é fazer discurso populista para a população, afirmando que vamos reduzir em alguns centavos o preço do combustível na bomba de gasolina. A perda de receita de ICMS leva a essa perda de volume de investimento em saúde e educação, com sacrifício dessa própria população.

Pode haver prejuízos aos cofres do estado

É mais uma atitude política, mas que pode dar graves prejuízos aos cofres do estado. Será que estamos cumprindo o pacto federativo? Será que, de fato, cabe ao Senado Federal, à luz da Constituição, definir teto de ICMS de Estado, sendo o único tributo estadual que legislamos diretamente por determinação da Constituição de 1988? Tudo isso vem à tona, porque, no fundo, a inflação é alimentada pelo custo absurdo dos transportes, pelos custos absurdos do combustível. E a Petrobras não muda sua política. Distribui dividendos polpudos a rodo em sacrifício da população brasileira.

Presidente empurra para os estados a solução do problema

O presidente da república já mudou em dois meses três presidentes da Petrobras e a política da empresa não se alterou. Como não está tendo sucesso na gestão que lhe é de competência, porque a União é acionista majoritária da Petrobras, começa a querer empurrar para os estados a solução do problema. E ainda diz o seguinte: posso até zerar o PIS/Cofins e a Cide, mas desde que os estados aceitem o teto. Se a grande preocupação é o país, e zerar o PIS/Cofins e zerar a Cide, quem pode fazê-lo é a União, isso independe de zerar o ICMS. Qualquer redução de custo é bem-vinda. E assim estariam, em tese, legislando naquilo que é da sua respectiva competência, porque estariam legislando sobre tributo e contribuição federal.

Estou chamando a atenção para esse tema, porque o próprio Congresso Nacional e o Senado Federal querem votar isso tudo até 14 de junho, que é a data limite para haver a conciliação sobre essa alíquota única do ICMS no âmbito do Supremo Tribunal Federal. Faço essa prévia de alerta. É um assunto que tem interesse público e estamos aqui diariamente observando que desdobramento essas questões terão lá no Senado.

Deixe um comentário