De volta ao FEBEAPA, por Luiz Paulo
foto: Julia Passos / Alerj

De volta ao FEBEAPA, por Luiz Paulo

Tenho saudades do querido Stanislaw Ponte Preta, que marcou tempo importante na nossa mídia, nas análises que fazia de forma sempre muito profunda, das diversas situações que aconteciam no nosso Brasil, principalmente no período ditatorial. O Febeapá, Festival de Besteira que Assola o País, onde quiseram até revogar a lei da gravidade em discurso. 

Nesta semana, o Brasil vive novo Febeapá. Fico imaginando a cabeça de nosso povo para entender o que está acontecendo dentro da política e do Judiciário brasileiro. Sem ser o Stanislaw Ponte Preta, vou aqui tentar fazer pequena síntese do volume de fatos incongruentes, incompreensíveis ou grotescos.

As reviravoltas

Viramos a semana em que o Moro, que era herói, se transformou em renegado; o Lula, que era renegado, se transformou em herói. Isso nesse curto espaço de tempo. O ministro Gilmar Mendes afirma que há fatos acontecendo na 7ª Vara Federal do Rio de Janeiro que levariam até estátua a corar. Isso diz ministro do Supremo. O ministro Fachin anulou as condenações do Lula e o ministro relator Gilmar Mendes vai mais fundo: multa o Moro em R$ 200 mil.

Ou seja, quem era renegado passou a ser mocinho e quem era mocinho passou a ser renegado. Concomitantemente a isso, o Moro, que era aliado de Bolsonaro, hoje passa a ser adverso; e o Lula, que era inimigo do Bolsonaro, já vê o Bolsonaro como bom candidato para enfrentar, para manter acirrada a oposição entre esses dois polos – direita ultraconservadora e esquerda, ou direita populista e esquerda populista. Mas não para aí.

Hoje, Lula veio a público e, entre tantas coisas, disse que está com a alma lavada, que foi feita justiça, porque foi considerado inocente. Vamos esclarecer: ontem, ninguém foi considerado inocente. Os procedimentos foram anulados para começar tudo de novo, e, assim mesmo, ainda precisa de declaração do Órgão Pleno. 

Até o Bolsonaro agora quer comprar vacina

Logo depois, o presidente Bolsonaro vem a público e, salvo engano meu, se diz a favor das vacinas, quer comprar vacinas, recomenda que, a qualquer sintoma de gripe, se procure um posto de saúde – o negacionista passa a ser a favor da ciência. Será que está fazendo isso, porque, em tese, o Lula voltou a estar no jogo? Como conseguimos entender essa salada de frutas tão grande, de mudanças tão radicais, em três dias? Vivemos em nosso país crescimento brutal e continuado da pandemia, com recorde de vítimas, de contaminados e óbitos. 

O que é jogo de cena e o que é verdade

Por isso me lembrei do Febeapá: dentro de tudo isso o que é jogo de cena e o que é verdade? É normal, na política, haver muito contraditório; os políticos, dos mais diversos matizes, não se entenderem. No entanto, parece que no Poder Judiciário também há diversas correntes políticas, e talvez no próprio Ministério Público Federal. Isso tudo causa confusão imensa na cabeça das pessoas. E querem fazer análises para as eleições de 2022 nesse mar de confusão.

Vamos observar o cenário

Sempre é recomendável esperar, dar tempo ao tempo, ver como as águas vão baixar; ver quem é quem e qual é a verdade realmente, ou, pelo menos, a verdade média vir à tona. Também é recomendável que, desde já, não queiram todos os políticos, candidatos ou pré-candidatos no Brasil, governar ou se expressar na base do puro populismo.

“Continuo a favor da ciência.”

Continuo na minha posição de equilíbrio. Sou a favor da ciência, sou a favor da vacinação em massa; sou a favor do lockdown; sou a favor do afastamento, sou a favor do uso intensivo de máscaras – na rua, não me contento só com uma, uso duas –; sou a favor da higiene das mãos; sou a favor da utilização do álcool gel, do sabão e água. 

“Continuo onde sempre estive: em defesa do Brasil e dos brasileiros.”

E sou a favor dos auxílios emergenciais. Tenho visão keynesiana da nossa economia neste momento histórico. Quero atuações de uma economia desenvolvimentista e continuo a ser um democrata radical, a ter convicção da importância da social-democracia, a ser defensor intransigente contra todas as formas de preconceito. Considero que o Brasil precisa, neste momento, não discutir um nome, mas discutir nomes que possam referendar um centro democrático com perspectivas sociais-democratas, e, quando estou falando em perspectivas sociais-democráticas, não falo do PSDB nem tão pouco do cidadão paulista chamado Dória. Falo da social-democracia na sua concepção alemã, francesa, nacional e não de partido político.

Digo isto, porque, neste momento, verifico que todos estão saindo de cima do muro para assumir a candidatura x ou y, mas até pouco tempo estavam escondidos. Continuo com a mesma linha de pensamento.

A história se repete como farsa

Concluo dizendo que, apesar de não ser dialético, a história se repete, mas se repete como farsa. E, ao fazer isso, faz com que revivamos, agora, o famoso Festival de Besteira que Assola o País, que deriva do nosso Stanislaw Ponte Preta, com a sua sigla Febeapá.

Homenagem a Hélio Fernandes

Quero, antes de encerrar, expressar meu pesar pelo falecimento do centenário Hélio Fernandes. Contraditório, mas militante forte na área do jornalismo, tocava a Tribuna da Imprensa entre tantas outras atividades. 

Deixe um comentário