Tempos difíceis e desafiadores
Deputado Luiz Paulo - foto: Thiago Lontra - Alerj

Tempos difíceis e desafiadores

por Luiz Paulo

É duro o momento político que vivemos. Vivi 74 anos para submeter o meu ouvido a esse festival de besteira que assola o Brasil, pelo radicalismo, sem nenhum fundamento, nem que sustente 75% daquilo que é dito. Vivemos um fundamentalismo xiita.

O totalitarismo

Se fizéssemos reflexão sobre o conceito mais profundo do que seja o totalitarismo, teríamos que ir a dois governantes que marcaram época dentro da política mundial. Iríamos à União das Repúblicas Socialistas Soviéticas e de lá extrairíamos o nome de Stalin, governante que dizimou parte da população russa, num governo populista que, em tese, visava ao bem comum do operariado. Só que, em nome desse “bem comum”, matou e chacinou milhares de pessoas. Não tão longe da Rússia, vamos à Alemanha de Hitler, que dizimou seis milhões de judeus em nome da supremacia racial, em nome da propaganda de eugenia muito intensa.

Em tese, Hitler e Stalin eram adversários, mas, na verdade, não eram, uma vez que comungavam os mesmos princípios totalitaristas e fascistas, sendo que um admirava o outro profundamente, já que foram contemporâneos. Foram os dois governantes que mais assassinaram no mundo.

A perseguição à cultura

Lembro que Hitler cassou todos os artistas da época que maculavam o princípio do que ele entendia como arte nazista. Quando alguém quer dizimar uma população, começa exatamente pela cultura e pelas artes. E o que estamos vivendo no nosso país é exatamente isso. Muitas vezes o corrupto diz que está combatendo a corrupção, quando, na verdade, apropria-se dessa própria corrupção. Estamos exatamente nesse impasse.

A múltipla crise

Associada a essa crise institucional, vivemos a pandemia do coronavírus. Associada a isso, temos a disputa entre Rússia e Arábia Saudita pela produção petrolífera, o que está disseminando outra crise na economia mundial.

Passemos, então, a um pente-fino nos nossos governantes – os três mais próximos. O prefeito da cidade do Rio de Janeiro se elegeu com proposta de estar mais próximo do povo, de atender melhor à população. É grande desastre como gestor. Não para por aí: agora mesmo, acontece operação do Ministério Público com a Polícia Civil para averiguar corrupção na Riotur, na Cidade das Artes. Apesar disso, o prefeito tem maioria na Câmara Municipal. Demagogicamente, afirma que vai transformar todos os funcionários da Comlurb em efetivos, para quebrar de vez o sistema previdenciário do município, semi-falido, mesmo sabendo que está, legalmente, impedido por ter ultrapassado os limites legais. Gera expectativa falsa. Vale tudo na correria para o voto. Só retirou o projeto, porque foi convencido que agradaria uns e desagradaria muitos mais.

Saio da prefeitura e venho para o governo do estado, onde admite-se até a possibilidade de haver escutas clandestinas e perseguição a parlamentares, voltando a tempos de antanho, em que o estado policial predominava. Fora a crise da CEDAE, ainda sem solução à vista.

Se quisermos, agora podemos subir ao governo central, do capitão Jair Bolsonaro, que tenta mostrar ao seu eleitorado que não consegue governar, porque existe o Congresso Nacional. A cada hora vem uma desculpa. Agora mesmo, decidiu que não ganhou a eleição em 1º turno,  porque houve fraude, mas não apresenta nenhuma prova, colocando sob desconfiança todo o sistema eleitoral brasileiro.

O pior dos mundos

Aliás, a primeira convocação que ele fez, para o dia 15 de março, foi exatamente contra o Congresso e contra o Supremo Tribunal Federal. Aliás, vale comentar que o ideal é juntar bastante gente, quando o mundo inteiro não quer aglomeração de pessoas por causa da pandemia do coronavírus. Que ele considerou alarme falso juntamente com Trump. Este é o país em que vivemos. Estamos sob o risco do radicalismo associado à incompetência. O pior dos mundos.

Febeapá

Termino citando Stanislaw Ponte Preta, que teve atuação importante no Brasil. Criou uma terminologia para glosar o governo, a do Febeapá, sigla do Festival de Besteira que Assola o País. No período, uma figura era contra tudo que havia de legislação, querendo até abolir a lei da gravidade. É possível que venhamos a ouvir isso nos tempos atuais: “Quem é que fez essa lei da gravidade?” Vão desconfiar que foi o Congresso Nacional e vão querer abolir a lei da gravidade. Vai ficar todo mundo no vácuo, vamos flutuar todos e perderemos todos a possibilidade de estar sob a ação da lei da gravidade.

De vez em quando saímos do tom para fazer alguma pilhéria, porque os dias têm sido duros. Ouvimos muita coisa que não era para ouvir.

A irracionalidade no comando

Neste plenário, tivemos uma demonstração dessa completa irracionalidade e radicalismo, quando quatro jovens parlamentares gritam o nome de outros parlamentares de forma ofensiva, quando, até três meses atrás, estavam do mesmo lado. Ao se mudar de lado na política é como se perdesse o caráter, quando a divergência é de caráter cultural, duramente atacado como pseudocomunismo. O caráter das pessoas pode alterar-se, sem dúvida. Mas não porque alteraram sua compreensão sobre fatos que vivem em evolução permanente. Muda-se a compreensão de um fato ou situação também por evolução de pensamento. O caráter é o mesmo. O entendimento evolui. Mas vale observar que, realmente, na análise fria dos fatos, um dos males que assola este Brasil é exatamente este: a falta de caráter.

Tempos difíceis e desafiadores nos chegam à porta. Precisamos estar à altura desses desafios. Com moderação, seriedade, pensamento aberto e uma profunda humildade. O Brasil, o Rio de Janeiro e sua imensa e sofrida população mais do que nunca precisam disso.

Este post tem um comentário

  1. Luiz Paulo, os tempos são duríssimos. Quando o presidente instiga o povo a gritar palavrões e AI-5, AI-5, além de irresponsavelmente apertar mãos de manifestantes em plena crise mundial de coronavírus, o que passamos a desejar é que as Instituições se organizem para afastá-lo do poder. Sua incompetência e sua irresponsabilidade a cada dia demonstram que sérias medidas precisam ser tomadas pelos outros poderes em comum acordo com a sociedade.

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