Confesso que sou um apaixonado por árvores, por Luiz Paulo

Confesso que sou um apaixonado por árvores, por Luiz Paulo

Há algum tempo tive oportunidade de aprovar aqui na Alerj um projeto de lei que trata de tema que guarda alguma similaridade com o PL 1354 de 2019, do deputado Waldeck Carneiro, que dispõe sobre arborização de áreas urbanas.

O que verifico é que, principalmente nos centros urbanos, o anseio dos gestores é pavimentar tudo. É só darmos um passeio em torno da Assembleia Legislativa. Achar um palmo de terra é uma dificuldade. 

As árvores plantadas não se adequam aos locais

E, além disso, esses pavimentadores gostam de deixar as árvores plantadas situadas apenas em 1 m², sem nenhuma seleção de que árvore deve ou não ser plantada: se de raiz profunda ou de raiz radial. Gostam de plantar, por exemplo, fícus, que enraíza de forma superficial muito forte, levanta os passeios, invade as casas, promove topadas e quedas de idosos. Não é compatível a arborização com fícus em perímetro urbano, além de ser uma planta exógena. A amendoeira também é outra espécie exógena, com raiz também predadora.

Em frente à Alerj, abricós podem causar traumatismo craniano 

Se sairmos pela porta da frente da Assembleia, atravessarmos a Rua Primeiro de Março e ficarmos parados no passeio adiante, veremos cinco ou seis abricós-de-macaco carregados. Se um abricó-de-macaco daquele cair na cabeça de alguém, vai causar traumatismo craniano. É uma das árvores que têm uma das florações mais bonitas que conheço, aquela flor roxa maravilhosa, mas não serve pra esse tipo de plantio em área de grande circulação.

Percorremos os perímetros urbanos e vemos, sob o ponto de vista de arborização, que está tudo errado! É claro que, se plantarmos árvore frutífera de jabuticaba, não vai machucar ninguém, porque é fruta pequena; de ameixa, até mesmo de fruta de conde, de pinha ou de sapoti. Mas se for jaca, abricó-de-macaco não pode dar certo. Infelizmente, nas nossas prefeituras não há paisagistas na acepção da palavra.

Pior ainda é a poda

E, pior ainda, o que agrava ainda mais: vem a poda. Colocam para podar árvore alguém que nem sabe identificar a diferença entre uma árvore e outra. Podam e fazem com que a árvore perca o seu equilíbrio natural, poda mais de um lado do que de outro. Quando o vento muda de direção, a árvore tomba. Este é um tema que precisava de educação específicas para nossos gestores.  

No Leblon, por exemplo, no canal da Avenida Visconde de Albuquerque, não há mais passeio, só há raiz de árvores. Como está tudo pavimentado, uma vez por mês uma árvore enorme daquelas tomba. Não há nem mais como dar impermeabilidade à árvore. A árvore está absolutamente sufocada. Ela não é de raiz profunda e desequilibra mais facilmente.

A tendência da natureza é sempre se recuperar

Este tema é extremamente relevante. É claro, se plantássemos com mais técnica, com ciência, a cidade ficaria muito melhor, a temperatura cairia, mas adotamos a filosofia do pavimenta, pavimenta, pavimenta, e não sobra espaço físico para isso. A tendência da natureza, se dermos tempo a ela, sem pavimentá-la, é sempre se recuperar. Na Região Serrana, no município de Petrópolis, há uma queimada brutal. Passam dois, três anos e tudo vem à tona em verde de novo, porque as sementes ficaram germinando, guardadas em solo mais profundo.

É preciso pensarmos numa cidade receptiva e saudável

Tudo isso é importante discutir, porque meio ambiente é começar do zero, ver cidades agradáveis, arborizadas, com técnica, com poda controlada, com arborização que não grude a fiação. Acho esse tema importantíssimo se pensamos numa cidade receptiva e saudável. Confesso que sou apaixonado por árvores. São vida e a estimulam e garantem.

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