Resistência ao golpe partidário
Um chupim jovem sendo alimentado por um tico-tico - Foto: Dario-Sanches-commons_wikimedia

Resistência ao golpe partidário

por Luiz Paulo

Fui abordado por alguns parlamentares em plenário sobre o que estava havendo no interior do partido ao qual pertenço, o PSDB, tendo em vista polêmica que surgiu no último final de semana, em que estive envolvido, e que me cabe aqui explicar.

Já há algum tempo, venho tendo sérias contradições com o partido ao qual sou filiado, o PSDB, devido à direção nacional ter decidido, de forma inteiramente equivocada, pela participação no governo Temer. Inicialmente, o PSDB posicionou-se contrário ao governo Temer, em função da própria história dos que comandavam aquele governo. Além de mudar sua decisão, omitiu-se quanto ao comportamento de alguns dos seus quadros. Daí resultou a fragilidade nas urnas da candidatura de Geraldo Alckmin em todas as unidades da Federação, ficando fora da polarização.

Aqui no Rio de Janeiro, lançamos um candidato a prefeito da cidade do Rio de Janeiro, à época, o deputado Carlos Osório, com bela votação no primeiro turno, mas sem ir ao segundo turno. No segundo turno, contra a minha vontade e minha posição política, o PSDB apoiou, por intermédio de Osório e do então deputado Otávio Leite, Marcelo Crivella, e foi participar desse governo desastroso, mas que venceu as eleições. Em função dessa decisão, me afastei da direção municipal do partido.

Posteriormente, com a vitória do Sr. Wilson para o governo do Estado, eu e a Deputada Lucinha nos posicionamos, em documento entregue ao governador, como parlamentares de oposição, mas, nos projetos temáticos importantes para o nosso Estado do Rio de Janeiro, poderíamos verificar sua validade e até melhorá-los e votar favoravelmente. Chamamos a isso oposição responsável. Alguns quadros foram para o governo Wilson, então, o PSDB tem mostrado uma postura de participar de qualquer governo. Lembrando frase de muito mau gosto, mas própria para o tema e que parece cunhada aqui no Estado do Rio de Janeiro: virou o “partido da boquinha”.

No último pleito, quando elegemos somente dois deputados estaduais e nenhum deputado federal, nem eu nem a deputada Lucinha presidíamos o partido. O presidente era, na época, o deputado federal Otávio Leite, e seu secretário-geral o vereador Bruno Lessa, de Niterói. A eles coube a responsabilidade da condução do partido e do desastre eleitoral. Aliás, desastre eleitoral que atingiu todas as unidades da Federação, inclusive o Estado de São Paulo. Vale lembrar que o governador Dória venceu as eleições ao se associar à campanha presidencial de Jair Bolsonaro, mas o PSDB perdeu bancada federal.

Chegamos a este momento, em que o PSDB teria que fazer convenções para eleger suas direções em nível municipal, estadual e nacional. O diretório presidido pelo deputado Otávio Leite e pelo vereador Bruno tinha, portanto, a competência de organizá-las no âmbito do Rio de Janeiro. Mas não fizeram a divulgação devida, atrasando o processo, para que não houvesse convenções, e fosse aberto caminho para que a direção nacional futura escolhesse uma comissão provisória, a ser assumida por um grupo de interessados não definidos. Alguns membros do partido não quiseram acatar essa posição esdrúxula, que jamais havia acontecido no Estado do Rio de Janeiro, tomaram as rédeas, montaram uma chapa com representação de todo o Estado e fizeram a convenção, democraticamente organizada, e elegeu-se o diretório e a comissão executiva. A Executiva Nacional anterior homologou essa decisão e os delegados escolhidos nessa convenção votaram na Convenção Nacional. Tudo certo. Até que há uma reviravolta. Eis que surge, para nossa perplexidade, uma medida ditatorial, de força, sob o auspício do ex-deputado federal Bruno Araújo, que assumiu a presidência nacional do PSDB,  por indicação do governador Dória, e anunciou que ia dissolver o diretório eleito democraticamente para escolher comissão provisória com nomes por  eles indicados.

Concomitantemente, houve jantar no Jardim Botânico, na casa do Sr. Paulo Marinho, com convite a 400 pessoas. Fui um dos convidados, mas, de uma maneira cortês, disse que não ia, como também a deputada Lucinha e a vereadora Teresa Bergher. Nesse jantar, realizado para criar base de apoio à futura candidatura de Dória à presidência da república, foi anunciado que o Sr. Paulo Marinho iria presidir essa executiva provisória para fazer o partido crescer. Evidentemente, não se pode concordar com atitudes verticais e ditatoriais.

A origem do Sr. Paulo Marinho, do Sr. Bebiano, também citado, é o PSL. Apresento aqui uma metáfora para ilustrar o que se pretende. Um pássaro chamado chupim bota o ovo no ninho do tico-tico e depois sai voando pela vida. E o tico-tico choca o seu ovo, choca o seu filhote e cria o seu filhote. É mais ou menos o que está acontecendo. É a história do chupim com o tico-tico. Parece que é o desejo no Rio de Janeiro de se colocar o ovo do PSL no ninho tucano para nascer um filhote do PSL.

E é exatamente isso o que nós não queremos, com todo o respeito ao PSL. Porque o PSL é outra instituição. Nós não queremos esse ovo chocado no ninho tucano, como fosse o tucano aí parecido com o tico-tico. Estamos, portanto, na resistência a esse projeto de força, a esse projeto virulento que está tisnando a trajetória do PSDB.

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