Luiz Paulo: investimentos em automóveis vão contra a sociedade

Luiz Paulo: investimentos em automóveis vão contra a sociedade

O “Jornal de Hoje”, importante veículo que há mais de 40 anos core as notícias da Baixada Fluminense, publicou entrevista com o deputado Luiz Paulo, sobre a questão da produção de automóveis no estado. Leia na íntegra:

Luiz Paulo: investimentos em automóveis vão contra a sociedade 1

O estado do Rio começou a interiorização da sua industrialização no governo Marcelo Alencar (1995/1999), cuja política de atração de empresas teve continuidade nos governos Rosinha (2003/2007) e Sérgio Cabral. Foi Marcelo que trouxe para o estado do Rio as primeiras montadoras internacionais, sendo a Volks a pioneira a se instalar no município de Porto Real, no Sul Fluminense.

Agora, quem vem para o Rio é a britânica Land Rover, com a promessa de produzir 25 mil veículos por ano. Segundo o líder do PSDB na Assembleia Legislativa, deputado estadual Luiz Paulo, a montadora não vai fazer muita diferença na economia do estado do Rio, porque o seu maior mercado deve ser São Paulo, devido a sua alta renda per capita.

Frisa, porém, que instalar fábricas de automóveis hoje em dia vai contra a sociedade, porque não existe mais espaço para automóveis nas ruas das cidades fluminenses.

>> JORNAL DE HOJE – Deputado Luiz Paulo, o senhor conviveu e ainda convive com o governador Marcelo Alencar, que iniciou o processo de industrialização do interior do estado. Esse processo do governo Rosinha, governo Sérgio Cabral, tem semelhança com o iniciado no governo Marcelo Alencar?

>> LUIZ PAULO CORRÊA DA ROCHA – Em alguns pontos, sim. A indústria automobilística, por exemplo, nasce no governo Marcelo Alencar, primeiro com a vinda da Volkswagen e depois com a vinda da Peugeot e, com isso, começou um processo de transformação do Sul Fluminense como um polo industrial da indústria automobilística, possibilitando que Porto Real tenha se emancipado e hoje sendo um dos municípios de melhor e maior crescimento do IDH, desenvolvimento Humano, além do mais lá se instalou uma grande indústria de vidro e também um parque industrial importante. O governo Rosinha deu continuidade e o governo Cabral agora recentemente atraiu a Nissan e agora a Jaguar Land Rover e também um segmento da Hyundai. Então, eu acho que nesse sentido há uma linha de continuidade e uma perspectiva de transformação do Sul Fluminense num polo metal mecânico. Os momentos históricos é que são distintos. Hoje atrair a indústria automobilística, no meu entendimento, não é uma alternativa interessante, porque o automóvel passou a ser inimigo da sociedade, porque não tem mais espaço viário para tanto automóvel. Então, não se justifica mais ficar dando incentivos fiscais à indústria automobilística, seja por empréstimo, seja por diferimento, seja por qualquer modalidade, precisa ser revisto. Claro que a produção anual da Land Rover é pequena, 25 mil veículos, é um carro ponta de linha, isso não vai fazer grande diferença para a população fluminense, até porque eu considero que o maior comprador de Land Rover vai ser São Paulo pela renda per capita de São Paulo em relação ao Rio de Janeiro. Eu não sei, porque também ainda não está claro, se esses carros serão exportados ou não. Claro que a indústria jamais será uma grande geradora de empregos, porque a indústria é toda automatizada, principalmente na linha de fabricação de automóveis, mas a cadeia produtiva o é. Então, os grandes geradores de emprego são os pequenos empresários, que são as pequenas empresas, prestadores de serviços, e o comércio. Mas, claro, sem parque industrial você não tem venda na ponta.

>> JH – O governo do estado está comprometendo sua receita, fazendo grande endividamento com esses projetos da Copa, dos Jogos Olímpicos, agora esse diferimento tributário para a Land Rover e para outros projetos na área automobilística, comprometem mais a receita do estado e também de honrar esses empréstimos pelo governo no Brasil e também no exterior?

>> Luiz Paulo – Não. Não, os empréstimos em si não são comprometedores porque o diferimento é em cima de uma receita que ainda não existe. É uma receita por vir. A indústria ainda não está aqui. A receita do ICMS hoje não contabiliza esse valor. Não compromete hoje e pode até crescer no longo prazo, mas no início da implantação da indústria também não representa receita. Mas no município onde ela está montada é importante, porque a contrapartida dos municípios no ICMS é 25%, distribuídos com os 92 municípios, e o percentual que cada um recebe dos 25% é em função da produção do ICMS em cada um dos municípios. Então, se você tem um parque industrial instalado, isso representa para aquele município um grande crescimento, como aconteceu em Porto Real, e agora está diversificado, o Porto Real, Resende e Itatiaia.

>> JH – O Senhor diz que a indústria automobilística não é mais tão significativa para o estado do Rio de Janeiro. Qual seria a alternativa de investimento e quais as regiões que mais carecem desses investimentos e geração de empregos?

>> Luiz Paulo – A Região que mais carece de empregos é o Noroeste Fluminense. Ocorre que o Noroeste fluminense, sob o ponto de vista logístico, não está no corredor Rio/São Paulo. Então, é difícil um parque industrial ir pra lá. Município que se beneficiou muito, porque existe uma logística importante, foi Três Rios, porque Três Rios é um grande entroncamento rodo/ferroviário. E ele se intercomunica tanto com Minas, tanto com São Paulo. Talvez seja o município, depois do Sul, que melhor aproveitou essas oportunidades. Mas o Noroeste fluminense continua muito carente e muito pobre em termos de investimentos.

>> JH – E do outro lado, Região Serrana. O governador Marcelo Alencar atraiu a Schincariol para Cachoeiras de Macacu. Tem outras regiões que precisam de um certo cuidado?

>> Luiz Paulo – A Região Serrana tem que ser polo de turismo, gastronômico, e gerador de tecnologia de serviços, polo têxtil, polo de moda, isso é algo muito mais leve.

>> JH – Deputados da oposição criticam o governador. Marcelo Freixo, por exemplo, diz que o governador não tem os pés no chão. Governa nas alturas. Clarissa falou que não existe planejamento estratégico. O Senhor acha que o governador está administrando com a cabeça nas alturas e sem nenhum planejamento estratégico?

>> Luiz Paulo – Acho que ele tem orientação estratégica, porque quando o governador é julgado pelo povo, julga pela questão comportamental.

Por Ronaldo Ferraz e Pereira da Silva (Pereirinha)
Fonte: http://www.jornalhoje.inf.br