É grave a crise: vai haver escassez de água, por Luiz Paulo

É grave a crise: vai haver escassez de água, por Luiz Paulo

A revelação da ONU, que já está muito clara para todos, de que a política de desmatamento continuada e acelerada no governo Bolsonaro é capaz de, associada com as outras interferências mundiais na natureza, provocar mudanças climáticas seríssimas. E uma dessas mudanças climáticas se dá no regime das chuvas.

As mudanças climáticas mexem no regime das chuvas

Ao longo dos anos, a quantidade de chuva que cai é sempre a mesma, porque tudo que evapora retorna sob a forma de chuva. É claro que, se você diminuir as áreas de evaporação, vai diminuir também as áreas de chuva. Um caso pelo outro, isso é quase uma constante. E as mudanças climáticas mexem no regime das chuvas. Isto é, você passa a ter chuvas muito fortes, densas, num curto período de tempo, em determinado período do ano, que, em geral, é o verão.

E, quando você mexe nos regimes de chuvas, sua distribuição passa a ser totalmente anormal. E, se não chove nas cabeceiras dos rios, não se tem, evidentemente, potencial desses rios aumentarem a sua vazão e gerarem energia elétrica. As hidrelétricas ficam muito aquém da sua potencialidade.

Sem captação de água, estações de tratamento de água ficam esvaziadas

As estações de tratamento de água ficam esvaziadas, devido às captações não terem água para captar. Então, só aí, com a alteração climática dos regimes das chuvas, temos dois problemas de escassez: a escassez que gera o racionamento da água e a perda da qualidade da água também, porque, quanto mais detrito na água tiver, mais esgoto tiver e o volume de água for menor, mais contamina e mais produto químico se gasta. Se você tem a crise hídrica, você também não tem geração de energia na quantidade de que o país necessita.

E aí entram as termoelétricas

Como consequência, entram em ação as termelétricas, e a bandeira vermelha da conta de luz vai para os píncaros. E, com a conta de luz aumentando, aumenta o gasto do consumidor, da conta de energia elétrica na casa das pessoas, em um período em que os salários estão à míngua; aumenta, também, a conta de energia do sistema metroviário e ferroviário, que também estão vivendo momentos difíceis e aumenta a conta de luz, na produção industrial.

Impacto no bolso do consumidor

Alguns produtos precisam aumentar seu custo final, porque consomem mais de 50% do valor final do produto para pagar a energia. O consumidor é penalizado duas vezes: no produto que vai comprar e na própria conta de energia que vai pagar. Veja o tamanho do problema, que já estamos vivendo com grande intensidade no Brasil. O poder aquisitivo baixo, o impacto no bolso do consumidor duplo: pelo aumento dos preços dos produtos, pelo aumento da conta de energia e, também, pelo preço na energia de sua casa. Além disso, vai subir o IPCA, isto é, vai aumentar a inflação que corrói o salário. Vejam o tamanho do sinistro que é você mexer nas condições climáticas de um país e da própria superfície da Terra.

A destruição da região amazônica e agravamento da crise climática

O Brasil, que já acabou, praticamente, com sua Mata Atlântica, a floresta que nos permeia, está destruindo a região amazônica e, como sempre, os gestores com um sorriso nos lábios de deboche. Falo só sob o ponto de vista econômico e social, mas a crise climática, com o tempo, terá gravidade maior, porque pode vir a promover guerra entre nações, porque a água passa a ter valor mais alto ainda, no decorrer do tempo, do que o barril de petróleo, porque sem água não há vida e a disputa pela água será imensa. Então, podem indagar: mas o que as árvores têm com isso? As árvores precisam de água e, quando há grandes estiagens, há grandes queimadas que desflorestam mais ainda.

O caso do sistema Imunana-Laranjal, em São Gonçalo

Corroboro com a intervenção da deputada Célia Jordão, que falou sobre esse tema. Itaboraí bebe água do sistema Imunana – Laranjal, estação de tratamento que está no município de São Gonçalo. O Canal do Imunana já não tem água suficiente. Lá se fazem barragens com saco de linhagem para ver se consegue fazer subir o nível de água, pelo menos um pouquinho, para a bomba de água puxar alguma água para a estação de tratamento.

No abastecimento daquela região, Imunana abastece São Gonçalo, que tem mais de um milhão de habitantes, abastece Niterói, Itaboraí e, também, um pedaço de Tanguá. E a crise hídrica pega em cheio toda essa região.

Relatório da CPI da crise hídrica

Em pleno século XXI, nossos governantes não acordam para esse problema. O relatório da CPI da Crise Hídrica, que fizemos, tratou deste tema. Fomos fundo em todas as medidas ali sugeridas aos governos, a todas as autoridades, continuam pertinentes. Nenhuma foi implantada.

No Brasil e em nosso estado, só quando chega a tragédia é que se dá atenção. Passa a tragédia, parece que o problema acabou, até que se repita a nova tragédia.

As tragédias se repetem

Agora, com as mudanças climáticas, as tragédias começam a ficar muito repetitivas, porque você muda o regime das chuvas e muda a possibilidade de vida como as pessoas se acostumaram.

Cadê as campanhas para economia de água

Pergunto: há alguma campanha feita pelo governo do estado de fazer economia d’água? Mas vai haver escassez. E será agora. Apesar de o dia inteiro de hoje ser chuvoso, muitas vezes nos enganamos. Mas, se não estiver chovendo na cabeceira do Rio Paraíba, ele não vai encher. Tem que chover no lugar certo, que é exatamente onde tudo está desequilibrado.

Mais área verde, mais água

Reflorestar é a primeira tarefa. Quanto mais área verde tiver, mais água vai penetrar no solo, mais vai alimentar o lençol freático, menos detritos serão carregados para as calhas dos rios. Os dirigentes sabem, mas não aplicam. Não dão o devido valor. E aí é crise em cima de crise.

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