CPI irá investigar queda da arrecadação do Estado do Rio de Janeiro, por Luiz Paulo

CPI irá investigar queda da arrecadação do Estado do Rio de Janeiro, por Luiz Paulo

Em 09 de março de 2021, nesta terça-feira, foi aprovado, pela ALERJ, o Projeto de Resolução 518/2021, de autoria do deputado André Ceciliano, que cria a Comissão Parlamentar de Inquérito – CPI – para investigar a queda na arrecadação do Estado do Rio de Janeiro referente às receitas compensatórias da exploração de petróleo e gás. O deputado Luiz Paulo, proposto para a presidência pelo seu profundo conhecimento do tema, discute aqui a matéria e sua importância para o Rio de Janeiro. Veja abaixo:  

“Vamos investigar os repasses de royalties e participações especiais.”

“Considero extremamente oportuna a proposta dessa CPI, para que possamos investigar os repasses de royalties e participações especiais para o Estado do Rio de Janeiro e os municípios petroleiros, visto que somos lesados há muitos anos.

Fiscalizar 10 anos para trás

Já na preliminar, proponho que esta CPI estenda o estudo para os últimos dez anos e não aos últimos cinco, porque prescreve o crime tributário em cinco anos, mas receitas de royalties e participação especial é receita não tributária e aí a sonegação só prescreve em uma década. Considero este o primeiro ponto importantíssimo.

Perda permanente de recursos para o Rio de Janeiro

Já em 2016, no governo Temer, verificamos que a Petrobras praticava grande sonegação contra nosso Estado e municípios. Durante anos que precederam 2016, ela vendia, exportava o barril de petróleo através de subsidiária sua no Canadá, imaginemos, por US$ 40 o barril, a subsidiária colocava o barril no mercado internacional pelo preço de mercado de US$ 50 e a Petrobras lançava na ANP a venda com a cotação do barril que havia feito à sua própria subsidiária. Ou seja, havia perda permanente do próprio estado.

Multada, a Petrobras recorreu e, finalmente, teve parecer salvador da Agu

Isso nos furtava receita do royalty e, também, da participação especial. E denunciamos, com repercussão na grande mídia. A Petrobras foi multada em mais de R$ 2 bilhões. No entanto, recorreu a diversas instâncias até que a Advocacia Geral da União – AGU deu parecer com o seguinte absurdo: a lei diz que ela tem que lançar o preço do petróleo que vende não importa a quem. Só que vende para si mesma, e isso não deveria ter valor. Mas o presidente Temer acolheu o parecer da AGU, enterrando a grande demanda do Estado do Rio de Janeiro e, em seguida, foi feita revisão da metodologia de como se calculava os royalties e a Participação Especial, deixando de ser só pelo preço do barril Brent e passando a ser uma bolsa de composição de preços de barris.

O Rio de Janeiro sempre perde nas relações com as concessionárias de óleo e gás

Por isso, reafirmamos que estamos sempre a perder nessas relações com as concessionárias de óleo e gás. Mas, agora, na participação especial – PE, perdemos em duas pontas. A primeira, o próprio Jornal O Globo traz matéria de hoje relatando auditoria do Tribunal de Contas – TCU em que as petroleiras seguram a produção nos poços de menor volume para que não atinjam patamares de incidência maiores. Um exemplo: se vai bater no topo e ter que descontar 40% de PE, segura a produção para não chegar aos 40 e ficar na faixa inferior.

Petrobrás define valores aquém do mercado e decide abatimentos

Mas tem mais. A Petrobrás continua a definir os preços do barril em valores aquém do mercado, porque isso depende de classificação do tipo de óleo. Continua infringindo esse dispositivo. Soma-se a isso que tem liberdade total de fazer os abatimentos da PE quando quiser e bem entender. É claro que o faz quando interessa a seu fluxo de caixa. Quando o seu fluxo de caixa precisa de mais dinheiro, joga tudo aquilo que tem acumulado de abatimento de PE. E, com isso, coloca a pique o fluxo de caixa dos municípios petroleiros e do estado, como aconteceu, recentemente, no mês de fevereiro, ao se perder praticamente 40% de Participação Especial.

A ANP não fiscaliza

Não para aí. A Agência Nacional de Petróleo – ANP – não tem equipe suficiente para destampar e fiscalizar essa caixa preta dos abatimentos da Participação Especial. E o Supremo Tribunal Federal – STF – já decidiu que a lei que aqui aprovamos há muitos anos, na época do secretário Joaquim Levy, fora de algumas três ou quatro palavras, é considerada constitucional.

“Vamos abrir a caixa preta.”

Está na hora, portanto, de destampar a caixa preta e fazer a fiscalização, que será de dois tipos: a fiscalização contábil e a fiscalização in loco. E isso porque também já flagramos, em outra CPI, a da Crise Fiscal, quilômetros e quilômetros de dutos, que foram abatidos no Campo de Lula, onde o pré-sal é muito vigoroso, mas, na verdade, esses dutos estavam todos depositados no depósito do Espírito Santo. Além, é claro, de uma série de outras questões sofisticadas por eles usadas.

Para ir às plataformas, vai-se de helicóptero, com horas e horas de helicóptero, ida e volta. Isso é caro e é feito cotidianamente, por troca de turma, para levar pequenos equipamentos etc. E têm toda a liberdade para escolher em que campo vão abater isso da Participação Especial.

O jogo do perde perde que atinge o Rio de Janeiro

É um jogo que o Estado do Rio de Janeiro e nossos municípios chamam de o jogo do perde-perde. Na verdade, porque ninguém tem coragem de enfrentar a maior estatal brasileira, da qual me orgulho, que é a Petrobras. Porém não me orgulho de seus gestores, porque negócio para ser bom tem que ser bom para todos os lados. E, quando faz isso, prejudica, inclusive, a própria União, que, no royalty e na PE, fica, como sempre, com a parte do leão.

Por isso, apoio integralmente a instalação da CPI. E desconfio de que, atrás dessa matéria jornalística de hoje, o parecer do Tribunal de Contas da União  – TCU – já não haja manobra das concessionárias para mexer na legislação mais uma vez, sempre a favor delas, inclusive nas próprias faixas de incidência da Participação Especial em relação aos volumes produzidos.

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