A quarta-feira de cinzas do descanso da folia é, hoje, a da tristeza do descaso, por Luiz Paulo

A quarta-feira de cinzas do descanso da folia é, hoje, a da tristeza do descaso, por Luiz Paulo

Tivemos, neste 2021, ano muito atípico, principalmente neste período carnavalesco. E o Carnaval sempre nos propicia algumas reflexões. A primeira delas é que, ao longo dos meus 75 anos de vida, não tenho lembrança de qualquer ano em que não houvesse Carnaval. E considero que os anos de 2020 e 2021 são os mais difíceis de nossas vidas. Seja de qual for o ângulo de que olhemos, as decepções são muitas e o desalento maior ainda.

A ausência do combate à pandemia

Em relação ao combate à pandemia, que consideramos devastadora, há ausência total. Vou me focar no governo federal, que negou, sistematicamente, a ciência, que aglomeração fosse responsável pela contaminação, que o uso de máscaras poderia proteger contra o vírus, estimulou que poderia haver, e seria positivo, a contaminação de manada, fez propaganda indevida e produziu, gastando dinheiro público, cloroquina, ivermectina, azitromicina e tantos outros medicamentos que afirmava terem efeito positivo para combater o coronavírus. Só que nada disso é real. Foi o governo que negou, permanentemente, a vacina, fazendo piadas e cogitando, com muito mau gosto e comentários desrespeitosos, que as pessoas podiam virar jacaré ou que ia ser inoculado algum tipo de chip chinês para fazer o controle de pessoas. 

Sem ministério da saúde

Soma-se a isso, a falta de coordenação do Ministério da Saúde, do Plano Nacional de Imunização, que nos parece proposital, para que esse caos que existe no Brasil seja assumido por governadores e prefeitos. E a consequência desalentadora disso tudo é o crescimento da contaminação e do número de mortos. Sequer os nossos idosos conseguiram ser vacinados. Ainda estamos na faixa dos idosos maiores de 80 anos sendo vacinados! E acabou a vacina. Agora, se tudo der certo, novo lote de vacina só em meados da semana que vem, ou seja, no fim de fevereiro.

Sem vacina, sem recuperação econômica

Em relação à economia, o presidente da república e o ministro da economia negaram que a recuperação econômica do Brasil passaria, necessária e obrigatoriamente, pela vacinação coletiva. Não se prestigiou e priorizou a compra de vacinas dos mais diversos laboratórios; negou-se a compra de vacinas chinesas, de vacinas russas e até mesmo da vacina americana da Pfizer. A consequência é aumento acelerado do desemprego e queda de renda brutal dos menos favorecidos.

Na política externa, somos párias

Em relação à política externa, quis o ministro das relações exteriores que o Brasil fosse o pária do mundo. E conseguiu. Temos dificuldades de relação com todos os países, porque a única política de relações exteriores que tivemos nesse período foi de apoio a Trump, que acabou de perder as eleições para Joe Biden, o novo presidente dos Estados Unidos da América.

Na política interna, acordos com o Centrão e retrocesso do combate à corrupção

Na política interna, o governo Bolsonaro sempre negou aliança com o Centrão, mas acabou de fazer essa aliança. Com isso, houve junção de interesses políticos diversos de muitos segmentos, tanto de direita quanto de esquerda, no sentido de desmoralizar a Lava-Jato. Assim, o Centrão também cria manto de proteção para que a Justiça não alcance a plutocracia corrupta que ainda atua em nosso país. A consequência funesta é o retrocesso no combate à corrupção.

No meio ambiente, a catástrofe é geral

Em relação ao meio ambiente, foi devastadora a política ambiental do governo no sentido de incentivar o desmatamento e a não proteção à região amazônica. A consequência foi o aumento exponencial dos desmatamentos e incêndios devastadores, tanto no Pantanal quanto na Amazônia.

No lugar da vacina, armas de fogo

Agora, quando a população do Brasil inteiro quer mais vacina, vem o presidente da república e emite decreto para expansão de propriedade e porte de armas de fogo, autorizando o aumento do número de armas que podem ser compradas de quatro para seis, de mil balas para duas mil. A quem interessa isso? O povo quer vacina, mas o governo prioriza fabricantes de armas; prioriza os que se locupletam nessas vendas de armas, que são milicianos e narcotraficantes; prioriza o aumento da violência. Dá imensa força à impunidade e ainda estimula setores radicais de direita, que consideram que armar a população facilita golpe contra instituições democráticas. Isto é lastimável! Na verdade, serve, também, para desviar a atenção do ministério da saúde inepto para a questão do armamento.

A agressão às instituições e à democracia

Encerrando essa relação, verificamos que passa a ser rotineiro deputado federal agredir as instituições em discursos e publicações que as abalam. Rememoram o AI-5 e ainda chamam a seu favor o ideário democrático. 

O desalento

Diante disso tudo, acontecendo a cada momento, realmente, temos que resistir, temos que lutar, mas há um desalento. Jamais imaginei que iria viver neste país que todos nós amamos e para o qual desejamos o progresso, política de desenvolvimento econômico e social, tempos tão duros e difíceis como estes anos de 2020 e 2021. Não há uma área para a qual possamos olhar de uma forma mais aguda, mais atenta, sem verificar que estamos na contramão da história. É tudo muito lastimável.

A irresponsabilidade

Encerrando essa minha análise, hoje, quarta-feira de cinzas, verificamos que, a despeito de não ter Carnaval, as aglomerações aconteceram em grande quantidade. Bailes ali na base do Vidigal, enxurradas de pessoas, que vão lá por livre e espontânea vontade. É claro que quem patrocina esses bailes também está na área do crime, mas as pessoas vão lá com suas próprias pernas, não respeitando a si mesmas e não respeitando o seu semelhante. Porque, se cada um que vai lá se contaminar, ao chegar em casa vai contaminar os mais próximos. E não há vacina para todo mundo. Aqui, na cidade do Rio de Janeiro a vacinação foi interrompida ontem, tendo atingido os idosos somente até 83 anos ou mais. E é preciso chegar até os 60 anos.

A saída para a crise econômica e social que vivemos é a vacina

O mundo inteiro já descobriu que a saída da crise econômica e social que vivemos é a vacinação. E, quanto mais rápida, mais efetiva é melhor. Mas, até mesmo nessa vacinação, verifica-se não obedecimento às prioridades, porque elas também não são definidas claramente pelo ministério da saúde. E vemos, também, o uso indevido, como a vacinação de vento. Esta é posição criminosa. Tudo isso é inadmissível.

Para encerrar esta reflexão na quarta-feira de cinzas, e que cinzas, reafirmo: o tempo vai nos mostrar que vivemos os anos mais difíceis de nossas vidas.

Este post tem um comentário

  1. Jorge Prado

    Uma análise completa de tudo que estamos vivenciando. Perfeito.

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