Luiz Paulo comenta Mensalão e processo eleitoral pós Constituição de 1988

Luiz Paulo comenta Mensalão e processo eleitoral pós Constituição de 1988

O deputado Luiz Paulo, em sua breve análise semanal do julgamento do Mensalão,  criticou o ex-presidente Lula ao questionar que apenas no mundo imaginário do ex-presidente o Mensalão não existiu.

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“Ontem eu assisti parte do julgamento do mensalão e pude constatar que a primeira tese que o Partido dos Trabalhadores e seu líder maior, Lula, defendiam, de que não houve mensalão, foi por água abaixo. E a segunda tese de que o dinheiro viria de fonte privada, não era dinheiro público, também foi sobejamente desmentida. Eis que agora não temos apenas o voto soberbo do Ministro Joaquim Barbosa. Já votaram mais cinco outros Ministros: o Lewandowski, a Ministra Rosa Weber, o Ministro Fux e o Ministro Toffoli. Por via de consequência, constatada está a existência do Mensalão pelos Ministros do Supremo, e que o dinheiro que lá rolou foi dinheiro público. Resta agora saber quais serão os condenados, quais os absolvidos e o tamanho da pena.

Amanhã, ou no mais tardar até quinta-feira, uma parte desse Mensalão estará concluído com o julgamento quanto à inocência ou condenação, sendo que quatro dos réus já estão devidamente condenados porque tiveram seis votos, em onze, já são maioria, a menos que alguém mude seu voto. É muito pouco provável alguém mudar um voto, quando o traz embasado por quinhentas laudas.

Recentemente, o ex-Presidente Lula voltou a dar declarações jornalísticas, dizendo que o Mensalão não existiu. Não existiu para o mundo dele, porque para o mundo real o Mensalão foi, pelo menos até hoje, conhecido como o maior processo de corrupção da história do Brasil como República.”

Mais tarde, Luiz Paulo abordou o artigo do jornal O Globo em que se analisava o processo eleitoral após a Constituição de 1988 e salientou a necessidade de uma grande reforma político-partidária.

“As eleições como estão correndo a cada biênio, com mais de trinta partidos políticos, facilitam única e exclusivamente a manutenção do status quo, esta forma tão deletéria que temos hoje dentro do processo político.

Você vai a um ambiente pedir voto para um vereador, na Cidade do Rio de Janeiro. Aí, você se dirige a um eleitor com a seguinte questão: é necessário o voto consciente; é necessário que possamos escolher o candidato pela sua história e por suas propostas para o futuro; é necessário que o candidato seja digno e honrado; é necessário que o candidato saiba quais são as principais funções do Parlamento.

Em seguida, vamos dizer: e vocês podem escolher um entre 1600 candidatos a vereador na Cidade do Rio de Janeiro. É praticamente impossível essa escolha, porque a oferta é muito grande pela existência de 30 partidos políticos. Quem vai ganhar a eleição, com honrosas exceções? Aquele que tem maior estrutura de campanha; os pop stars, frequentadores assíduos da mídia escrita, falada e televisada; aqueles que têm apoio de instituições religiosas; aqueles que têm apoio de instituições sindicais; aqueles que são candidatos das máquinas públicas e aqueles que até têm grau de parentesco com os que estão no poder. Mais as honrosas exceções. Ora, isso tem conduzido o processo político-eleitoral para um grande impasse do eleitor: a obrigação e não o exercício da cidadania de ir às urnas e votar por votar sem a necessária convicção de que seu voto é um instrumento sagrado para o fortalecimento da democracia.

O único momento em que todos são iguais, de fato, é perante as urnas, porque todos valem apenas um voto. Mas esse momento é desperdiçado por essa conjuntura político-eleitoral absolutamente nefasta, pois não há coragem neste País para uma reforma político-eleitoral profunda. Nesse leque de 30 partidos políticos, nós que temos mandatos sequer somos capazes de dizer a relação de todos. É nesse estágio do processo político que a política está cada vez mais desacreditada.

Estamos praticamente a 40 dias da decisão eleitoral no Estado do Rio de Janeiro, onde 92 prefeitos e centenas de vereadores serão eleitos, numa escolha difícil de o eleitor fazer. Numa eleição majoritária ainda se vislumbra melhor essa perspectiva porque, dependendo do município, são dois, três, quatro, cinco candidatos, mas para vereador na Cidade do Rio de Janeiro há 1600 candidatos. Como é duro escolher um. Com que critério?

Aproveito o artigo de hoje para reforçar esse conceito de que há a necessidade de uma – profunda – reforma político-partidária, que não acontece porque os donos do poder querem manter tudo como está.”