O gigante acordou e agiu

O gigante acordou e agiu

 
Chegamos ao fim de um ciclo e as instituições brasileiras cumpriram seu papel. Dentro da lei e com ritos aprovados pelo Supremo Tribunal Federal – STF – foi aberto o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Longa viagem noite adentro, com o Senado Federal em funcionamento por mais de 20 h.
 
Alegria? Sim, se levarmos em conta que, em 2013, explodiu um processo de contestação com milhões nas ruas, tão insatisfeitos, que as bandeiras surgiam de maneira desordenada, mas todas refletiam o incômodo que dominava as pessoas e também sua perplexidade. Foi a partir daí, quando muitos diziam “o gigante acordou” e outros “fogo de palha” das elites, que o quadro começou a clarear para a população brasileira. O “gigante”, insone, percebeu a piora do cenário. O processo eleitoral, eivado de mentiras, intrigas, disse me disse, criação de um Brasil róseo, levou à vitória apertada da presidente.
 
Afinal, como num passe de mágica, ou de desfazimento da mágica, o Brasil ruiu. Inflação, desemprego, políticas públicas sem funcionar, a geladeira esvaziando, a qualidade de vida de todas as camadas da população, com mais ênfase nos mais pobres, piorando. E os cidadãos resolveram agir. Seguiram-se atos espalhados pelo Brasil afora, mas agora tornara-se claro para as pessoas do que o Brasil precisava: mudanças éticas, gestão eficiente, políticas públicas em funcionamento, acabar com a corrupção. E iniciou-se o processo legal, tendo como base o desrespeito à legislação brasileira patrocinado pelos que se consideravam donos do poder.
 
No respeito aos princípios democráticos, chegou-se a um novo momento. Fácil? Não será. Entramos em rota descendente, os índices econômicos e sociais desabaram, a imagem externa foi corroída. Mas há uma janela de oportunidade a ser construída pelos segmentos responsáveis. Gostaríamos, entre todas as questões a serem enfrentadas, de destacar a importância de avançarmos no rumo da superação desse presidencialismo de coalizão, fruto do quadro de pulverização partidária, onde princípios e valores se confundem com os interesses dos mais diversos tipos. É necessário haver reforma política que permita à população perceber, com clareza, quem é quem e o que propõe e defende como projeto de Brasil, de Estados e municípios. Basear as decisões em escolhas de ideias e não em questões pessoais de qualquer tipo. É na ausência de ideias claras e públicas que se criam corrupção, favorecimento, interesses pessoais de diversos tipos – esta é a origem do que infelicita os brasileiros hoje. A saída é, sim, pela política aqui compreendida como a arte de se relacionar e construir consensos, compatibilizando interesses e necessidades, de forma transparente e democrática.
 
Consideramos a reforma política a mãe de todas as outras, porque, num regime democrático, é preciso que haja completa correspondência entre a vontade do eleitor ao votar e o resultado eleitoral, que deverá refletir-se no acompanhamento do eleitor sobre o eleito e sua forma de atuação proposta no processo eleitoral. Está aberta a discussão.
 
Deputado Estadual Luiz Paulo e Lurdinha Henriques, professora

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