Ficha Limpa, PNH3 e Pedofilia segundo a Igreja

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  • Post published:17 de maio de 2010
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O jornal O Globo desta quinta-feira (13), veicula o posicionamento da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a respeito de três temas, com os quais concordo totalmente. O primeiro é com relação ao Projeto Ficha Limpa.

Ficha Limpa, PNH3 e Pedofilia segundo a Igreja 1

“CNBB também faz defesa do projeto Ficha Limpa. A CNBB aprovou também a Declaração sobre o Momento Político Nacional, que defende uma profunda reforma política no País, faz uma defesa do Projeto Ficha Limpa e recomenda aos fieis uma reflexão sobre a importância do voto ético”. No texto da declaração não há qualquer citação a partidos ou candidatos.

“Incentivamos a que todos participem e expressem, através do voto ético, esclarecido e consciente, a sua cidadania nas próximas eleições, superando possíveis desencantos com a política, procurando eleger pessoas comprometidas com o respeito incondicional à família, à liberdade religiosa e à dignidade humana.”

Ao mesmo tempo em que a CNBB, de forma assertiva, defende o Projeto Ficha Limpa, o voto ético, o voto racional, o voto em função da reflexão, em defesa da dignidade humana, o mesmo jornal O Globo estampa em primeira página, declaração do líder do governo no Senado que vem afirmar que o Projeto Ficha Limpa é um desejo da sociedade, que não tem prioridade para o governo.

E cabe a pergunta: quando é que a prioridade do governo será prioridade da sociedade? Porque entendo que é a sociedade que escolhe o governo, então o governo deveria ser sensível à querência da sociedade, e o Projeto Ficha Limpa, além de apoiado pela CNBB, é exatamente apoiado por toda sociedade, foi colhido mais de 1 milhão e 700 mil assinaturas, projeto de cunho popular, isto é, da sociedade.

Fico pasmo que o líder diga que o governo tem outras prioridades profundamente diferentes das prioridades da sociedade. E olha que o governo do Partido dos Trabalhadores sempre se valeu do voto das comunidades de base, da Igreja Católica Apostólica Romana, e está hoje em dia, depois que foi para o governo, em dissonância com parte do Clero.

Veja o segundo posicionamento da CNBB, segundo o jornal O Globo. “Ainda que num trecho curto o documento apontou críticas ao Programa Nacional de Direitos Humanos com distorções inaceitáveis presentes em alguns itens.”

Porque a sociedade brasileira rejeita não os direitos humanos, ela o quer, ela defende, mas o projeto vertical, inconstitucional, truculento que o governo, por decreto, quer impingir à sociedade. E por que as duas coisas se conectam? Porque é como diz o líder, o governo e a sociedade estão apartados, o governo quer aquilo que a sociedade não deseja, mas o governo autocrático quer impor o seu ponto de vista.

E, finalmente, vem a CNBB, por meio da palavra de Dom Hummes, manifestar claramente que defende a condenação de padres pedófilos. Diz que é um problema grave, gravíssimo, intolerável. A Igreja, a meu ver, num momento de estar sendo aquela instituição no mundo que mais abertamente e com maior rigor está cometendo esse crime, esses delitos que são inaceitáveis. Uma autocrítica vigorosa, dura, e que traz isso para o mundo real.

Acredito que esse documento da CNBB, originário da 48ª Assembleia Geral que se realizou nos primeiros dias de maio, traz uma contribuição concreta à sociedade. Primeiro que o Projeto Ficha Lima tem que ter prioridade para ser votado no Senado, independentemente de querer ou não o governo porque é algo fundamental para vigorar já para essas eleições de 2010. Segundo que o Plano Nacional de Direitos Humanos, decreto do Presidente Lula, é inaceitável na forma que está. Precisa das devidas correções em respeito à tradição, à cultura, à democracia e à família brasileira. E por último, que pedofilia é crime para qualquer um, para qualquer ordem religiosa e para qualquer cidadão, e como tal as penas da lei.

A posição da Igreja foi dura e firme, mas no meu entendimento, democrática. Porque, independentemente de credo religioso, os direitos humanos têm que ser respeitados na sua essência. O cidadão tem que ser visto na sua totalidade, totalidade física e espiritual que se complementam num só.

E o povo brasileiro, em especial, queiram uns ou não, tem uma matriz fortemente cristã que também tem que ser respeitada. Religião também é cultura, e se nós desrespeitamos os credos religiosos, inclusive os majoritários, estamos desrespeitando a nossa natureza e a nossa própria cultura.

Entendo que o documento da CNBB foi bastante reflexivo, foi duro, foi vigoroso, mas refletiu o que deseja a sociedade brasileira: ética na política, democracia, amplitude das discussões e proteção ao menor.