As águas de quarta de cinzas varreram parte da alegria, por Luiz Paulo

As águas de quarta de cinzas varreram parte da alegria, por Luiz Paulo

Prefeito Crivella e governador Pezão, vocês são responsáveis

Acabou o Carnaval. Nas águas que desabaram na noite de quarta-feira de cinzas, correram o lixo, as sobras carnavalescas, parte da ciclovia Tim Maia, árvores, e, para parte da população, também a alegria, que se afogou na tristeza de mortes, desabamentos, gigantescos engarrafamentos, falta de luz, e por aí vai.

Para a população, fica a ausência completa de qualquer governo. A falta de controle ficou clara desde os preparativos para a grande festa, que não é só do Rio, mas do Estado do Rio e do Brasil, com repercussão internacional.

Numa festa com tal dimensão, qual o efeito surpresa que impediu o planejamento prévio da folia, tanto dos órgãos estaduais quanto dos municipais? Pensemos que são três eventos carnavalescos principais: desfile das escolas de samba, bailes e blocos. Cada um com seu perfil. O desfile das escolas é, em grande parte, terceirizado através da Liesa, com, no mínimo, reputação duvidosa. A infraestrutura do Sambódromo não avançou e os problemas de sempre só pioraram – som, luz, insegurança interna e externa.

Passemos a outro dos eventos – os bailes, atividade em franco declínio. De organização privada, dependem pouco do poder público para se realizarem e são cada vez menos relevantes para a festa que assume seu caráter popular.

E, agora, tratemos do que se tornou um modelo em expansão na folia – os blocos. Aí é que o caos se instalou mais fortemente. Lembremos que eram milhões de pessoas simultaneamente nas ruas. Vamos aos fatos: caos na ordem pública, sem planejamento das ações das polícias e da própria guarda-municipal; desordem e insegurança nos transportes, que se somou à desordem no trânsito, com as pessoas não podendo retornar a suas casas e correndo riscos indevidos; limpeza urbana incapaz de dar conta do lixo gerado pela movimentação de milhões de pessoas, que teve como efeito perverso as inundações das cinzas.

E onde estavam os principais gestores, responsáveis maiores de todo esse planejamento ausente no Carnaval? O prefeito do Rio, como missionário que é, não quer envolver-se nas atividades pagãs. Para tanto, trocou o calor momesco pelo frio europeu, numa missão explicitada como busca de mais soluções para a segurança pública, que, segundo ele próprio, não é da Prefeitura. Diz-se em missão oficial e é, oficialmente, desmentido e retira seu vídeo por ser completamente mentiroso.

O governador do Rio de Janeiro, exilado em Piraí, com ar de quem quer ser deixado em paz, assume que houve, sim, falta de planejamento na questão da segurança pública. De um dia para outro, retira efetivos do interior do Estado para suprir as necessidades da orla do Rio. É desastroso e vergonhoso.

É preciso explicar direitinho ao prefeito Crivella e ao governador Pezão que, ao se candidatarem a cargo público, assumem a responsabilidade pelas políticas públicas de suas esferas administrativas, portanto, pela segurança, saúde, educação, habitação dos habitantes de sua cidade e Estado. Fazer “cara de paisagem” não faz parte do rol das possibilidades dos eleitos.

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